Folhas ao vento

As folhas do calendário se desprendem como se levadas pelo vento. Voam, deixam rastros de dias, semanas, meses. Amarelecidas, conduzem presente e futuro ao misterioso mundo do passado.

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A lei dos tempos é implacável. Muda crenças e costumes, contempla conquistas e descobertas. Não perdoa quem se acomoda e adormece.

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Com olhos vedados, a deusa justiça é prisioneira de sua própria incapacidade de enxergar as injustiças.

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Brincar de misturar cores, fixar os olhos no azul que nos cobre, na delicadeza de suas variações, abraçar o verde que nos rodeia, acenar para o cinza do concreto.

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A noite esconde as grutas da esquina, de onde saem os que se encantam com as estrelas, com o luar que convidam para o amor, os que se maravilham com o sabor da existência.

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A dança é um prolongamento da música. O ser humano foi criado para dançar a beleza do universo. Na natureza, tudo que é belo dança. É fácil sentir a coreografia das ondas e das árvores, das aves e dos peixes.

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Desenho paisagens com flocos de nuvens, construo palácios com a brisa que acaricia as árvores. As mãos da aventura riscam as linhas do futuro.

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Noite, dia, dia, noite. As sombras fazem parte da vida. Não tema a escuridão, acenda uma luz e prossiga a caminhada.

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A noite tem muitas luas, escolha uma, o futuro não espera.

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A educação é o alicerce da sociedade, o passaporte para atravessar as fronteiras do desenvolvimento. Sem uma boa base as colunas desabam, o prédio da civilização se transforma em ruínas.

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Viajo com olhos atentos, enxergo a magia do céu azulado e busco decifrar os desenhos abstratos das nuvens. Por que não se podem ler as mensagens das nuvens?

Vida

Ouça os sons do universo, a sinfonia das ruas, o ritmo do trabalho. Veja o cintilar das estrelas, o véu prateado do luar que se esparrama pela noite, o despertar do sol. Sinta a fragrância das flores, o odor da maresia, o aroma apetitoso dos alimentos.

Faça um giro de 180 graus, deixe o olhar vagar ao redor. Confira: a vida palpita, convida para a aventura da existência. Permita que a imaginação desenhe sonhos. São eles que conduzem a carruagem que leva às grandes conquistas do amanhã.

Geografia

Na Geografia de nosso mundo interior há rios, montanhas, praias, paisagens magníficas, recantos maravilhosos. E há infindáveis belezas à espera de quem se aventurar pelos caminhos da imaginação.

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O sonho é uma fantasia de imagens em preto-e-branco que os psicólogos usam para interpretar a origem de improváveis traumas.

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A praia é um parque de fantasias com castelos de areia, bailarinas de conchas e rastros na areia que as ondas desmancham.

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As horas vagam nas veias do dia, tempo de olhar para a cortina do céu e arrancar um botão de nuvem na roseira azul.

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Mesmo que o caminho seja difícil, cheio de rugas, é preciso avançar, prosseguir. À frente, depois dos obstáculos, as flores das realizações alegram o sucesso.

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Não deixe que os sonhos se distanciem levados pela brisa do desânimo. Faça da determinação o antídoto contra o desalento e o castelo de nuvens se transformará em realidade. A vitória do ideal se constrói com arrojo e trabalho.

Bailado das Medusas

Pegadas na areia. Vultos difusos se movem, lentos, paralelos, quase juntos, mas separados, nunca se abraçam no afago do bem-querer. Parecem barcos sem comando, à deriva, na imensidão oceânica. Há sol, cheiro de algas e nuvens que flutuam. As horas jorram na cascata dos dias, semanas e meses escoam pelas corredeiras da vida. Raios vermelhos do entardecer indicam a proximidade da noite, passagem para a lua, brilho de prata no reflexo das águas.
Reaparecem as estrelas, olhos de fogo, diamantes flamejantes, que se comunicam à distância. Linguagem de pirilampos seresteiros no jardim de muitas flores. Cantigas de roda, pássaros no aconchego das árvores, em ninhos sagrados. Diálogo cifrado no enigma da esfinge. Movimentos suaves de bailarinas, coreografia encantada. E a respiração dos que se atormentam no vendaval de mágicas fantasias impossíveis.
As sombras se misturam, dissolvem-se na escuridão, os rastros são levados por sucessivas ondas. Mistério: a deusa do mar é ambígua, impenetrável, impossível interpretar códigos, descobrir segredos, o semblante de gelo nada revela. E Netuno permanece estático, contempla o vaivém dos caranguejos, o bailado das medusas, o canto dos golfinhos. Fica indeciso: prosseguir ou recuar? Subir em sua carruagem de sonhos, puxada por cavalos-marinhos ou retornar à gruta profunda e ouvir o murmúrio de espécies subaquáticas que se consomem em insaciável fome antropofágica?
Fusão de presenças, seres medievais retornam ao futuro, furor de batalha, mortos e feridos, cansaço de guerra. Toque de silêncio, folhas de primavera desprendem-se de galhos imponentes, planam ao embalo da aragem e se deixam seduzir pelo beijo frio de botas implacáveis.
Tempo de rever o mapa, escolher rotas, seguir sem rumo. A melancolia se derrama e ele, náufrago que se sente cinza como uma tarde chuvosa, soldado perdido que não reencontra a trincheira na insensata marcha da retirada, debate-se na maré alta, revê-se no imponderável espelho da vida, imagens interpostas que se multiplicam, reprisadas, pessoas que ele nunca foi, seres que se cruzaram em quadras distantes, mulheres que lhe acenaram e desapareceram em súbitos remoinhos, abismos, anos de areia que vazaram pela ampulheta furada.
Compreende que se afoga, aprisionado na rede, peixe amedrontado, sem possibilidade de emergir, elevar-se à superfície, ganhar asas, alçar vôos, transpor o espaço, atingir galáxias intocadas, penetrar em mundos selvagens onde as borboletas são eternas.
Tudo se movimenta rapidamente, velocidade da luz, o ontem e o hoje são breves passagens, porteiras que se abrem e fecham com furor, as estradas levam ao ocaso. Não resta alternativa, tanto faz seguir à direita ou à esquerda, impossível retroceder, evitar o afogamento. Braços pesam, pernas são de chumbo, apenas bala disparada, projétil queimado, explosão do impacto, alvo estilhaçado.
O corpo molhado goteja, membros se amotinam, não acatam ordens de avançar, lutar. Água salgada ou rios de suor e lágrimas? Não adianta se debater, prolongar a agonia, melhor entregar-se às correntes, submergir, submarino enferrujado, impotente para disparar torpedos e destruir as invisíveis grades que tolhem seus desejos. A sentença proferida: o sorriso foi banido de sua boca que se abre no espasmo do último instante.

Paulo Bomfim

Corredeiras do tempo

Paulo Bomfim

Hélcio Carvalho de Castro se fosse vivo estaria orgulhoso de seu discípulo Guido Fidelis. Mas será que o Hélcio não continua a viver suas “Andanças de Macunaíma”? Em algum lugar do tempo, numa esquina do espaço, na dimensão dos universos paralelos, Hélcio empresta o brilho ao texto e à textura de um cotidiano mágico onde companheiros desaparecidos se confraternizam em redações fantasmas. Evocando a lenda desse passado, vou descendo as “Corredeiras do Tempo” e aportando nos contos que me conta Guido Fidelis.

De há muito acompanho o garimpar de histórias do jornalista que conheci ainda muito jovem cursando a Faculdade de Jornalismo “Cásper Líbero”. Tem o dom de lidar com as palavras e de transformar a escrita em fatos insólitos. O cotidiano em suas mãos adquire roupagens inusitadas. Transfigura-se no exercício de seu mister num contista dos melhores. A surpresa navega o rio que vive corredeiras que nos convidam a aventuras diferentes.

O leitor certamente sairá renovado de seu mergulho em águas falantes de peripécias, e o Hélcio estará dizendo ao Américo Bologna:

- Esse Guido tem muito talento!

Corredeiras do Tempo


Guido Fidelis
Corredeiras do Tempo
São Paulo - RG Editores - 2001
134 páginas

Nascido em 1939, Guido Fidelis é um escritor cosmopolita, sensato, pé no chão, e sua pulsante literatura deixa pouca dúvida a respeito de suas preferências: drama policial com um aroma decididamente neonaturalista. Realmente, sua floresta urbana São Paulo é, mais frequentemente do que não, comprimida em um gênero ainda considerado opressivo. Porque apenas uma olhada de relance nos títulos das recentes obras revela tais tendências: por exemplo, É um Assalto (It's a Holdup; 1980), O Homem Fatal (Fatal Man; 1983), A Morte Tem Lábios Vermelhos (Death Has Red Lips; 1988) e A Reconstrução do Mundo (The Reconstruction of the World; 1994).

De qualquer forma, Corredeiras do Tempo (Rapids of Time), a última obra de Fidelis, mostra uma propensão marcante para a abstração acima da ação. Contemplação transcendental maior que compreensão física prova mais que o convencional, e de fato domina os mais de 30 ímpares contos, que quase medem somente um mero par de páginas de extensão. Há humanidade em suas inter-relações com as forças naturais ao redor. Raramente, o autor incorre na barbaridade, como que vitimado pelas epígrafes de Borges que apimentam os mini-textos por toda parte.
Ao invés de policiais e ladrões, o leitor se encontra imerso em atmosferas densas caracterizadas por uma forte ênfase no simbolismo. No final, a narrativa filosófica de Guido Fidelis chega através de curtas-metragens, ricos em lirismo e um prazer para ler.

Malcolm Silverman
Universidade de San Diego
World Literature Today

Hoje, amanhã

No giro terrestre tudo se renova:
as manhãs, as tardes, as noites.
Afinal, o que não pode ser feito
hoje será a grande conquista do
amanhã.

Frases soltas

Que importa o que passou e o que tombou em estreitas vielas, nos enganos/desenganos? Foram momentos que hoje se distanciam, permanecem soterrados. Importante é reconstruir, despertar o ânimo e a coragem.

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O mundo da ilusão não é real, existe no sonho, no desejo.

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A noite escorrega e as estrelas se despedem, o dia toma seu lugar no palco para o grande espetáculo do trabalho.

Passado e presente

Fustel de Coulanges, no clássico “A Cidade Antiga”, escreve que “o passado nunca morre totalmente para o homem”. O esquecimento não chega jamais. Mesmo entre as brumas do tempo é possível resgatá-lo e repetir as lições deixadas, para o bem ou para o mal. Em suas ações, o homem reencontra as diferentes épocas e delas extrai os exemplos para seus combates no dia-a-dia de suas existências, com as devidas adaptações do momento presente.
A repetição da história é o que se vê no espelho da realidade. O ódio entre ricos e pobres, a dominação dos povos pelos tiranos ou pela oligarquia violenta. O jogo de necessidades e de interesses corrompeu os ocupantes do poder, e a orgia das negociatas transformou-se num escuro e lodoso mar, onde se avistam as sórdidas embarcações dos políticos que buscam, a qualquer preço, a satisfação de suas vaidades por meio do enriquecimento ilícito.
Parafraseando Aristóteles, pode-se afirmar que o político, depois de eleito, jura ser eterno inimigo do povo, e fazer-lhe todo o mal que puder. Mundo afora, uns mais, outros menos, convergem pelos mesmos caminhos, labirintos repletos de armadilhas para as vítimas que serão sacrificadas, ou seja, a população. Há os que confiscam bens dos governados para aumentar seus lucros, os que são mesquinhos por natureza e os que se deixam levar pela cólera desenfreada, vingando-se sobre o sangue dos inocentes.
Há os que usam o nome de Deus ou de Alá para se transformar em senhor das vidas e das fortunas. Abrem templos para arrecadar recursos, comercializam de maneira profana a imagem do divino, fantasiam-se de emissários, anjos perversos de ensandecidas paixões pelo dinheiro ralo roubado dos miseráveis, daqueles que acreditam em palavras vãs, em promessas inúteis. São sacerdotes que sonham com o poder, que desejam ter vassalos ao seu redor. Em breve, como no tempo da Grécia, alguns séculos antes de Cristo, as religiões voltarão ao seio familiar, ficarão restritas a determinadas regiões, onde um tirano estará de olhos abertos para acabar com a liberdade e expurgar os inimigos.
Na política, o passado já invadiu o presente e domina a cena de um espetáculo degradante. Em muitos territórios, há matanças generalizadas de inimigos; em outros, ditadores perversos aprisionam e assassinam sob o signo de combate a opositores. Muitas vezes, são aplaudidos pelos adoradores, os que desejam imitá-los, assumindo postos de mando para dirigir os destinos das multidões, obrigadas a se ajoelhar ante seus pés imundos.
Mas há, ainda, os que, travestidos em defensores da democracia, também sonham em se perpetuar nos galhos pobres onde defecam as fezes de seus intestinos entupidos em almoços e jantares, em longos bacanais. O maremoto de lama invade palácios e residências, respinga em parlamentares de bases governistas, em partidos que ergueram as bandeiras da ética e da transparência, estandartes que se mancharam com o lodo dos esgotos.
Agora, a bomba está prestes a detonar. Parlamentares nadam contra a maré, tentam reencontrar a fórmula da impunidade, precisam calar a Imprensa, deusa poderosa, sem afeições nem benevolência. Preferem o apoio dos eleitores pacatos, os que recebem pequenos favores, um pacote de macarrão, uma esmola qualquer. Eles não ousam raciocinar, não discutem, servem de claque, oferecem-se para gritar palavras de ordem, um exército de fantoches à espera da ordem unida de seus líderes.
Que dizer sobre o ritual do dinheiro? Malas, malotes, pastas, todas recheadas. Milhões e milhões desviados dos cofres públicos para saciar a fome de políticos. Mensalões e bônus para custear as farras gastronômicas, as bebidas e os charutos, roupas de grife e, ainda, o pagamento dos acompanhantes, belas amantes e garotos de programa, dependendo da orientação sexual do freguês.
Quais as aspirações do povo que são defendidas? Apenas aquelas originárias de grupos, sejam eles ruralistas, evangélicos, da jogatina, das drogas, dos direitos humanos dos criminosos e daqueles que querem mais recursos à custa da elevação de tributos e criação de taxas. Sustentam ONGs e instituições de seus interesses pessoais. Ao povo, uma banana, ou o sopão dos miseráveis, um caldo azedo destinado a adoçar bocas famintas.
Voltando a Fustel de Coulanges: “A sociedade atravessa uma série de revoluções e muda de aspecto”. Mas das brumas do passado renascem os fantasmas. Com outros aspectos, novos disfarces. Tudo para repetir, de maneira grotesca, os ensinamentos dos velhos políticos, com os mesmos sonhos da dominação pela tirania. Apenas com outros nomes, mas com o uso da mentira e do disfarce. Como diria Chacrinha, o velho guerreiro: “Nada se cria, tudo se copia”.

Letras

Ao encarar um novo amanhecer, a chegada do amanhã, é preciso compreender que há vários futuros ao nosso dispor. É possível se acomodar, tomado pela preguiça, à espera que as coisas aconteçam ao acaso, ao sabor da sorte. O verdadeiro futuro, o que interessa, implica intervenção humana. Sua construção depende apenas de nossas ações.

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A vida, sem a presença dos amigos, é uma ilha de pedra, deserta, selvagem, inóspita. Mas a amizade é um frágil canteiro de flores que exige cuidados especiais. Necessita do adubo da tolerância, da sinceridade e da lealdade. Aparando-se arestas, a amizade viceja como a flor mais bonita do jardim da existência.

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Prepare o sorriso, abra os braços, festa, vamos saudar a primavera que chega segunda-feira e traz, em seu bojo, a beleza e o perfume das flores. Aproveite a estação primaveril para sonhar e realizar desejos. Quantas coisas podem ser feitas, quantas outras se materializam. O caminho está aberto para quem se dispõe a percorrê-lo. A vida oferece oportunidades, mas não perdoa a preguiça, o pessimismo ou o desânimo. É preciso agir e trabalhar com a convicção de que o mundo pertence aos que criam e aos que acreditam que é possível deixar de lado tristezas, esquecer mágoas e alcançar os objetivos pretendidos.

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Conquistas incluídas no álbum do passado não são suficientes para adormecer o presente. O ontem não basta. É preciso abrir as portas do futuro, aventurar, colher novos frutos. Aí reside o mistério da existência, o caminhar incessante de acordo com as leis da natureza. Pense na primavera, nas flores, nas estrelas, no luar e sorria para a vida.

Mensagens

Abra um sorriso bonito, tão bonito como as flores da primavera, que chegam na próxima semana. Sempre que se sentir triste olhe para o sol, sinta o vento, perceba como a natureza pulsa. E prossiga, cabeça erguida, acredite em você e nas conquistas que haverão de chegar.

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Os amigos aparecem, chegam de lugares distantes, não temem o perigo que se esconde nos esconderijos da noite, o suor não escorre das fendas do medo. Estão fantasiados de alegria, querem plantar a flor do sorriso nas alamedas da vida.

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Nas ruas, rastros de esperança, rodas de canto e alegria. Nos domínios da noite as estrelas piscam mistérios.

Penso

Manhã, garoa fina paira no ar. O trabalho convoca, é hora de sair, não importa que o sol esteja escondido na madrugada. Vamos aos nossos compromissos, a vida não sossega, não pode parar, jamais.

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As horas navegam na jangada do tempo, os minutos roem os segredos do futuro. A madrugada se aproxima na carruagem do mistério.

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Os rastros do inverno se apagam levados pela brisa da Primavera. Logo mais, festival de flores, rosas, orquídeas, lírios, begônias. E a vida também segue em suas estações, ora com momentos escuros, lembrando o inverno, outras vezes alegre como as flores do campo e, ainda, à imagem do sol refletindo os raios sobre rios e montanhas.
Tempo de refletir sobre a grandiosidade da natureza, a diversidade de seres, os mistérios da criação. E descartar as mazelas, escolher o caminho a ser percorrido, aproveitar a beleza que está à nossa frente. Não é tão difícil sorrir, abraçar um amigo, erguer o coração e fazer silenciosa prece. Estufar o peito e se tornar de novo uma criança despreocupada para viver intensamente com gosto bom de primavera, com liberdade para que os sonhos flutuem e se transformem em imagens reais. Vamos colher os frutos de nossa existência, reparti-los com as pessoas que amamos, Deus estará conosco na ceia dos justos. Alegria, muita alegria, palmas para a primavera.

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Arranha-céus. A vida pulsa entre prédios de concreto. Nos subterrâneos e túneis, nas ruas e no ar. Há correria, vozes, passos, motores, sons que se confundem em estranha sinfonia. Mas também há a esperança: de comprar um bem de consumo, finalizar negócios, regressar em segurança ao abrigo do lar.
Do mesmo modo que o Sol se levanta toda manhã, oferecendo o espetáculo do alvorecer, também podemos despertar e recomeçar. Com ânimo para prosseguir, dar continuidade à nossa missão cotidiana, avançar sempre, superar obstáculos e alcançar os objetivos. Mas também com olhos para contemplar as belezas que nos cercam, coração aberto para receber o afeto da amizade.

Sedução da lagoa

Sentada na pedra, diante da lagoa, a pescadora anseia por um peixe, a alegria de erguer o troféu, observando o movimento das espécies coloridas, na brincadeira de esconde-esconde, entre arbustos aquáticos. No espelho de água, cristalino, a pintura de rastros flamejados do sol que se despede da primavera e toma o caminho que conduz ao outono. Ao redor, alamedas de plátanos, sinuosas, pavimentadas com muitas camadas de folhas envelhecidas. Esparsas, em conivência pacífica, moitas de bambus.
Às vezes, tocada pela solidão, libera o pensamento, excursiona montada em nuvens que se assemelham a cavalos brancos, selvagens, livres. Não se incomoda com a espera, nem se aflige ao lembrar que é difícil pescar sem varas, anzóis, iscas, redes. O tempo humano, marcado por minutos e horas, nada significa para quem tem a certeza de encontrar.
Foi depois do prolongado suspiro, no momento de recolher os sonhos, acenar para o poente e dar adeus ao dia. Primeiro, os pássaros. Silenciaram, de repente. As árvores permaneceram imponentes, em posição de sentido, à espera das ordens do general vento.
Os olhos da pescadora capturaram a figura que emergiu, de magnífica estátua, a pele dourada, de bronze, maravilhoso homem-peixe esculpido por artistas divinos. Ao se mover, com vigor e sensualidade, ganhou vida, transformou-se em jovem, formoso, destemido, forte, inquieto. Pareceu-lhe tratar-se de estrangeiro, talvez um descendente de Netuno que emigrou do mar, herói disposto a conquistar novo território, ampliar seus domínios, saciando a sede de água doce na mansidão da lagoa. Foi o que lhe ocorreu, de pronto.
Ele parecia resplandecer. Nu, musculoso, atlético, ardente, perfumado. Mesmo à distância, era possível sentir o odor adocicado de flores silvestres que se desprendia daquele ser celeste, impregnando a atmosfera. O presságio do perigo percorreu a mente da pescadora, respingou arrepios pelo seu corpo, que chamejava, devorado por incêndio devastador.
Antes que ela pudesse esboçar fuga, encontrar uma cabana abandonada para esconder o medo, ele, com mãos de artesão, fabricou uma flauta, abrindo um tubo de bambu, que foi perfurado com espinhos. Ao leve contato com os lábios, o sopro mágico produziu a balada, romântica, sons suaves, melódicos, lembrança de Grieg, Liszt, Chopin.
Sob efeito hipnótico, ela permaneceu imóvel, aguardou a aproximação. Não quis decifrar a linguagem gravada nos olhos do estranho. Aceitou ajuda para se erguer. Mãos dadas, caminharam pelas margens, comunicaram-se apenas com toques, trocaram sorrisos de criança, repartiram frutas frescas, colhidas da uvaieira, umedeceram os lábios com framboesas. Vieram beijos, muitos beijos. Então se deitaram, abraçados. A noite se maquiou de estrelas e desfilou o luar, manto bordado de prata para agasalhar os amantes.
Ao despertar, na alvorada das aves, a pescadora estava novamente só. Mas não se deixou conduzir pelo barco da tristeza. No íntimo, ela sabia: não adiantava chorar a ausência em portos e praias, na incerta esperança do regresso. Marinheiro não gosta de terra firme.
Ela se permitiu cantarolar, tateou a barriga. Sim, o peixe fora fisgado, estava em seu aquário, em águas profundas. Em breve, brevemente, voltaria aos seus braços, agora com feições suaves de bebê.

Corredeiras do Tempo

- Vai chover! – praguejou, entre os dentes, assistindo, contrariado, a tarde se vestir de noite. Quando as primeiras gotas, fortes, tamborilaram na vidraça, sobreveio a lembrança de dança de roda. O pensamento capturou, no retrovisor da vida, esmaecidos filmes, em preto-e-branco: ele e a primeira namoradinha, no jardim, rindo da chuva, da água que escorria pelas faces e encharcava as roupas. Trocavam rápidos beijos, úmidos, molhados de alegria.
Agora, sem ânimo para sair em socorro das borboletas que se debatiam entre folhas esfarpadas, e tangido pela melancolia, deixou-se aprisionar na cadeia das recordações, levado pelas corredeiras do tempo. Revisitou campos floridos e praias, muitas praias, freqüentadas por lindas garotas, em permanente e luxuriosa camaradagem com o sol.
Em seus ouvidos ainda soavam, retumbantes, os sons dos aplausos de admiração, quando se cobria de glória ao vencer competições radicais e exibia o vigor muscular dos campeões. Contabilizou perdas e ganhos, sucessos financeiros, fracassos amorosos, sentimentos descartados, retratos que envelheceram e perderam a nitidez. No balanço, os lucros sobrepujavam os prejuízos. Ainda restavam reservas no saldo positivo.
Coçou os olhos com as pontas dos dedos, conferiu: continuavam secos. Sentindo-se vazio, desprovido de idéias para se safar da clausura imposta pela chuvarada, vagou pelos aposentos, em pacífica convivência com os fantasmas pegajosos que povoam os sonhos irrealizados. Conformado, suspirou. Depois, entrou na adega, selecionou uma garrafa de château Haut-Brion e seguiu em direção ao escritório. Antes de se posicionar diante do micro, escolheu envelhecido charuto Belinda Corona. Com a primeira baforada teve a sensação de que a fumaça azulada reproduzia telas de Pablo Picasso e Salvador Dalí, além de proporcionar estímulos e evocações.
Em seguida, digitou longas séries de letras e combinações de caracteres, explorou o ciberespaço, perambulou por ambientes virtuais, navegou pela representação de cidades exóticas, clicando para entrar em prostíbulos de luxo, extasiando-se com a graciosidade de jovens ambiciosas que se deixavam cortejar por velhos executivos que exoravam um sinal positivo, senha destinada a selar negócio, atendimento exclusivo, satisfação de todas fantasias imaginadas.
Repetiu a operação para percorrer sombrios corredores de antigos mosteiros, penitenciando-se em busca de perdão para os pecados. Assustou-se com o morcego que se desprendeu do teto e efetuou vôos rasantes ao seu redor, em círculos, talvez em tentativa de comunicação, desejoso do carinho de um afago.
Ao digitar novas senhas, surpreendeu-se com o cibersexo interativo, imagens que se movem em tempo real. De repente, surgida do nada, de algum recanto mágico do universo, a viajante se materializou, ganhou formas de mulher cobiçada, lúbrica, revelando o segredo de rotas fantásticas nos mapas dos seios túmidos, nos lábios caramelados, meio sépia da umidade.
Pálida, guardava semelhança com uma deusa da lua, a pele esbranquiçada, coberta por transparente véu. Provocante, tomada de graça sensual ao dançar, convocou para a sagração do amor, cerimônia reservada a poucos iniciados, aos eleitos. Seu corpo exalava perfume afrodisíaco de incensos raros.
Em êxtase, deixou-se enlevar, esquecido de compromissos, do correr das horas. Passaram-se dias, meses, a ampulheta se partira, não mais importava o calendário. Exuberante, ela entrou em processo de rejuvenescimento, a tez amorenava, os lábios se tingiam de vinho, de vermelho-sangue.
Ao exsurgir na alcova, leve, feliz, tinha consciência de se ter transformado em atrevido navegador, capaz de vencer tormentas e velejar por mares desconhecidos de universos paralelos. Decidido a ousar, tentar novas experiências, fechou as janelas do Windows, desligou o computador e ficou observando a visitante se dissolver, dissipando-se em meio à fumaça azulada que formava as derradeiras nuvens. Segurando a taça, brindou em homenagem ao sucesso da navegação, sem se incomodar com as gotas de vinho que pingaram em seu pescoço e escorriam, vagarosas, bordando manchas rubras na camisa de seda.

Paixão no campo de pouso

Abro a porta e me preparo para uma longa jornada noite adentro. A garoa e o vento tornam o frio do inverno sulista quase insuportável, enregelando meu corpo carente de calor. O forte desejo de recuar em busca de abrigo é vencido pela obrigação de trabalhar, comparecer ao aeroporto, recepcionar uma autoridade e conduzi-la ao hotel. Amuado, desejoso de esmurrar as árvores soturnas que se erguem como fantasmas disformes nas ruas desertas, dirijo com raiva, maldizendo o azar de ter de vagar pela cidade.
Após estacionar o veículo, entro no saguão do aeroporto, repleto de passageiros que esperam chamada para embarque, muitos turistas e executivos. Os vôos estão atrasados em decorrência do tempo fechado, não há previsão de pousos e decolagens. Contenho meu ímpeto de fúria, respiro longamente, tento me acalmar, caminho entre pessoas carrancudas, vejo vitrinas que exibem produtos artesanais, perfumes e quinquilharias, entro na livraria, escolho uma revista ao acaso e me acomodo num duro banco para esperar pacientemente, distraindo-me com figuras e letras.
Súbito, ergo os olhos e sinto uma chama percorrer todos os meus membros, fogo que queima e incendeia a mente, sacudindo-a, transformando vagos pensamentos em poderosa imaginação, antevendo um improvável e arriscado futuro de aventuras. À minha frente, surgida talvez de um toque de magia, uma linda jovem. Encantou-me de imediato. Diante daquela mulher sensual, arrebatadora, de corpo insinuante, estremeci, surpreendendo-me numa fuga para um mundo distante, onde sonho e realidade se fundem.
Deixei que o feitiço me levasse para pontos distantes do universo. Eu e aquela dama que me fascinava. Nós, num átimo de segundo, abraçados, beijos ardentes, longos, sorrisos juvenis de garotos despreocupados, sem pressa, caminhadas sem rumo pela praia ensolarada, o mar despejando sua língua de ondas para nos acariciar. Bastavam-nos os sons selvagens da natureza e o Sol, luz para iluminar os afagos, o passeio das mãos pelas coxas roliças e lisas, o resfolegar do desejo, a ânsia de amalgamar os dois seres e esculpir uma estátua que se eternizasse pela sua beleza.
De volta ao presente, ao reabrir os olhos, a mesma e cálida visão, ela continuava ali, seu perfume chegava até mim. Talvez também navegasse em mares distantes procurando mistérios para desvendar. Quais seriam suas fantasias? Que homem estaria à sua espera para beijar aquela boca tão próxima e, ao mesmo tempo, tão longínqua, inacessível como uma montanha nevada? Deixei escorrer uma lágrima de melancolia, lembrando-me de canções medievais, quando os casais dançavam em jardins floridos, entre flores silvestres.
Senti raiva de minha impotência, de não possuir o arrojo do caçador, da timidez que embargava minha voz. Olhei de relance, uma última vez, para me despedir daquela visão, e subi, passos titubeantes, a escadaria que me conduzia ao patamar superior, permitindo-me observar o céu, tentar distinguir alguma estrela entre nuvens cinzentas, vez ou outra riscadas pela vermelhidão dos relâmpagos, Esquecer, era tudo o que queria, mas também, em desespero, buscava arrancar do inconsciente antigas e silenciosas preces esquecidas na infância.
Ali fiquei, estático, ainda conservando as imagens do devaneio, caindo verticalmente em direção ao inferno, gritos e urros saudando a chegada da alma atormentada, condenada pela culpa de não saborear a fruta da árvore do bem e do mal. Tinha a terrível impressão de ser um intruso, uma fera incapaz de despertar paixões.
Uma rajada de vento mais forte fez com que me virasse afim de fugir da zona de turbulência. Lá estava novamente a mulher, agora a poucos centímetros de distância. Estremeci, as pernas bambearam, transformadas em arbustos sacudidos pelo vento. Não sei quanto tempo se passou até que os risos brotaram em bocas primaveris, que lembravam amoras maduras. Breve comunicação que explode do olhar, assentimento para prosseguir e a conversa fluiu entre os desconhecidos, desconexas em princípio até se tornarem mais impetuosas. Minutos e horas voaram instantaneamente.
Muitas coisas transitaram pela minha cabeça: seria sonho ou realidade, considerando que o real depende de hipóteses metafísicas e só é dado nos limites da experiência possível? Num impulso, aproximei-me mais, beijei levemente seu rosto, abracei-a com a força dos meus braços. Ela retribuiu com ardor.
Nesse instante houve a chamada para embarque. O tempo havia escoado. Na minha concepção, a presença dela estará sempre presente, mas prestes a ausentar-se. A separação tinha sido decretada. Restou apenas a promessa de reencontro. Juramos nos corresponder, as velhas cartas eram mais românticas que a frieza dos meios eletrônicos. O papel é amante das palavras, elas preenchem o branco com sentimento, poesia e o sangue que brota do coração.
Ela embarcou com um aceno. Havia alegria na despedida, esperança de regresso, reinício, muitas vidas para serem vividas, viagens, quando se quer as distâncias encurtam, ficam amenas, não há sacrifício, mas o desejo de beijos demorados, língua com língua, a chegada ao paraíso das delícias.
Não poderia jamais esquecer aquela fisionomia que me alucinou, o cheiro de frescor e a voz melodiosa. Não consegui me concentrar para desempenhar a tarefa que me cabia. Recebi friamente a autoridade, a conversação, no trajeto, foi gelada como a noite, meu cérebro vagava por outras paragens. Cumprida a missão, deixei-me tocar pelo sonho. Agora, fantasias rodavam velozmente em meu cérebro, filmes reprisados, de todos os ângulo eu e ela, juntos, livres para amar, toda a alegria de viver uma grande paixão, sem as névoas do passado ou as incertezas do amanhã. Somente o presente, o futuro estava encarnado naquele momento.
Escrevemos um ao outro de maneira alucinante. Cartas laudatórias falando de amor. Confesso: a paixão me consumia, não mais conseguia comer, trabalhar. A presença dela permanecia em minha mente, uma sombra que me seguia por todos os cantos, postava-se diante de meus olhos, devorava-me lentamente. Manhã, tarde ou noite lá estava aquela mulher. Sorria, abria os braços, eu corria em sua direção, quanto mais eu corria mais ela se distanciava, brincava de se esconder.
As correspondências tornaram-se vício, escrevia varias cartas por dia, trocamos juras, fizemos planos, loucos programas, os dois na praia, nus, transando diante de golfinhos e sereias, seres marinhos nos aplaudiam, ou na solidão de um quarto de hotel, apenas homem, mulher e seus desejos. Nada mais importava, somente ela, o animal sobrepujava, aflorava de minhas entranhas.
Dias e dias, cartas e mais cartas. Tinha de acabar com aquele tormento que me levava à loucura. O afeto intenso e permanente invadia minha vida psíquica, dominava minha razão. Marcamos um encontro, ambos ansiávamos por aquele momento. Ela viria e eu estaria à sua espera, contando os minutos, vendo a chegada dos aviões, coração aos pulos, respiração presa.
Quando entrei no aeroporto, rosto úmido de suor e lágrimas de saudade, ainda lutava contra o medo de perdê-Ia, deixar que me escapasse. Minha alma ascendeu até a contemplação do ideal e do eterno. Muitas lembranças afloraram de imediato. Refleti que a memória não representa apenas o conhecimento dos fatos passados, mas também o reviver afetivo, a reprodução de estados anteriores, uma parte do passado. Questionei-me sobre o melhor modo de agir, perguntando-me se deveria revolver o passado.
Havia, ainda, a incerteza. E se ela tivesse perdido o avião ou mesmo desistido de viajar? Como poderia eu afirmar que ela era sincera ao escrever? Não estava ao seu lado, impossível saber se não estaria apenas brincando com meus sentimentos. A dúvida pairou ameaçadora, nuvem de tempestade. Minha mente ficou vacilante, girando em várias esferas. Perplexo, vi uma interrogação formar-se: teria sido real aquele encontro? Tão fugaz e repentino. Ou foi um simples devaneio, uma miragem que se eternizou?
As sensações distanciaram-se, difusas, amareladas, envelhecidas. Afinal, desde aquela noite quantas luas ficaram soterradas nas ruínas que se perderam no espaço? Meses ou anos? As correspondências existiram? Foram lidas?
Quando a voz metálica anunciou a chegada do vôo, fiquei excitado e ansioso. Meu corpo oscilou e senti uma sensação de desmaio, a escuridão se fez diante de meus olhos. Ouvi vozes aflitas e passos apressados. Ao longe, o som de uma melodia romântica. Esforcei por me reerguer e me afastar daquela confusão, do tumulto, queria contemplar apenas o anoitecer, a chegada das estrelas, certeza de que a vida é apenas um emaranhado de sonhos. Estes sim, belos e eternos.

Pensamentos esparsos

Vamos criar um código para nossas vidas. Nele, podemos ordenar as leis que regem o destino de cada um de nós, com dispositivos apropriados às ações que praticamos no dia-a-dia da existência terrena.
É possível adotar a ironia anglo-saxã que cunhou o termo blue sky laws, as leis do céu azul, que prescrevem a tonalidade dos ares primaveris, uma pureza celestial, embora as nuvens estejam cinzentas, prenunciando tempestades.
Jamais esquecer: em nossas mentes coexistem, em harmonia, a concepção de justiça e a noção de deveres. Eles podem ser aprimorados no dia-a-dia, de acordo com os ditames da consciência que delimita o território entre a região do bem e as terras do mal.

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Chegadas e partidas, alvorecer, entardecer e o manto da noite. Eis o ciclo da vida, o mistério não desvendado. Ficam fragmentos de intensos momentos vividos no céu estrelado da memória. Pedaços esfarrapados da história de nossa vivência e a lembrança do convívio com amigos e pessoas amadas permanecem como imagens esmaecidas, envoltas pela penumbra da saudade.
De tudo, única certeza: a importância de construir para legar o exemplo, de subir os degraus com a cabeça erguida, a imponência dos justos, dos que se empenham na tarefa de alicerçar o amanhã espargindo as sementes do bem. A felicidade consiste em acreditar no futuro sob a luz divina emanada de Deus. Dele vem o conforto para superar as dificuldades e atravessar o bravio mar das lágrimas.

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Vamos conhecer as ruas de nossa existência, rever caminhos percorridos e projetar as estradas do futuro. Adiante, há uma praça, muitos bancos, um coreto, música que encanta espíritos e flores que alegram os olhares. Tempo para refletir, breve balanço das realizações. Depois, folhear o catálogo de sonhos a fim de escolher aqueles que serão reais pela força indomável da vontade.
Seguir é preciso. A vida é como o mar, ora manso, outras vezes agitado, sempre em movimento. Suas ondas apagam os rastros deixados para que sejam substituídos por outros formados por nossas andanças. Em frente, pois, com muita garra.